aCena Recifense entrevista GOMES

Escute a matéria

Dando visibilidade aos novos talentos da terra, o aCena Recifense entrevistou GOMES, revelação do pop pernambucano que acabou de lançar seu primeiro álbum de estúdio.

1. De que maneira nasce sua relação com a música e em que momento você decidiu lidar com ela de forma profissional?

R: “Profissionalmente, antes de pensar em ser músico, eu sou ator. Quando eu tinha 17 anos comecei a me profissionalizar em teatro, mas também sempre gostei de cinema, de desenhar e da música. Meus pais lembram até hoje que quando eu era bem pequenininho eu pegava um violãozinho de brinquedo e fingia que estava tocando alguma coisa para todo mundo ficar me aplaudindo, então acho que sempre foi muito natural esse lugar para mim. Todo decorrer da minha vida eu tenho alguma lembrança da arte presente. Criança, adolescente, nessa fase adulta agora… Eu estou lançando um disco, então sempre foi muito presente. Quando tinha 18, 19 anos, já tinha vontade de lançar um disco. Depois disso acabei lançando algumas coisas, mas a vontade do disco ainda permanecia. Finalmente aconteceu e estou muito feliz! Acho que foi um grande passo!”

2. Como é, para você, produzir música pop em Pernambuco de maneira independente?

R: “É um pouco complicado produzir música pop aqui em Pernambuco, porque eu acho que Pernambuco ainda tem algumas travas em aceitar o que é novo. Isso acontece comigo e com tantos outros artistas que vêm lançando trabalhos autorais que evocam essa novidade. Por vezes é um pouco cansativo, porque ainda é difícil furar essa bolha trazendo tanta novidade sonora e até mesmo visual. Mas eu acho uma delícia estar aqui em Pernambuco e falar de Pernambuco nas minhas músicas. O disco também é uma homenagem a Recife e também trago nele muitas das minhas raízes através do meu sotaque, dos meus visuais, dos gêneros que eu abordo e das letras também. Eu uso muitos termos que a gente usa aqui em Pernambuco, não tinha como fugir disso. Mas, paralelamente a isso, existe toda uma problemática: eu tô cansado de ouvir: ‘você precisa ir pra São Paulo, você precisa ir pro Rio de Janeiro…’ para que a minha carreira aconteça. Acho muito baixo astral isso, ter que sair do seu lugar, da sua terra pois, apesar de árduo, é bom estar aqui, fazendo música aqui, falando daqui, com os códigos daqui.”

3. Nos conte um pouco sobre como surgiu “Puro Transe” e como foi produzi-lo.

R: “A ideia de ter um disco surgiu quando eu tinha 19 anos, e até cheguei a fazê-lo, mas no pente fino da produção percebi que não era aquilo que eu queria, Não eram aqueles ritmos, aqueles gêneros, aquelas letras… Mas ele foi importante para que eu entendesse a dinâmica das coisas, porque tudo que eu faço, aprendo na prática, assim, sabe? Depois disso demorou um tempo para que eu encontrasse uma equipe que eu pensasse ‘é essa turma aqui que vai fazer o meu disco acontecer!’. Foi só em 2022 que me encontrei com Olivier e Berna e eles mergulharam de cabeça, pois eles tinham muito do que eu queria construir sonoramente falando. Foi a partir dessa junção que nasceu o disco, sabe? A gente começou a produzir de uma forma muito descompromissada, mas, ao mesmo tempo, com esse olhar para o futuro e respeitando sempre o processo, que muito bom de ser vivido. A gente se encontrava semanalmente, durante um ano e meio, e toda semana surgia uma novidade. Depois veio Guilherme Assis, que é do estúdio Zelo, que que passou o pente fino na produção. Então, eu acho que ‘Puro Transe’ é sobre essa junção. Quando gravamos o disco todo mundo ficava junto dentro do estúdio construindo aquilo junto, então foi um processo muito bom. Além disso, o álbum é sobre a minha trajetória também. Eu acho que esse trabalho fala muito sobre mim.”

4. De que forma você descreveria seu álbum (sentimentos, sensações, atmosfera, sonoridades, letras…) para chamar a atenção de alguém que ainda não conhece seu trabalho?

R: “O ‘Puro Transe’ fala sobre a hipnose de uma paixão na cidade onde o mar encontra o concreto, cidade tropical que é um refúgio por muitas vezes, mas que no dia a dia é bem caótica. Então ‘Puro Transe’ evoca o calor, mas evoca o noturno desse calor. Não é um álbum óbvio, ele tem essas nuances e contrastes. Ele tem uma atmosfera que é muito tropical, muito anos 90 e 2000, que foram grandes referências para mim. Toda aquela coisa que a gente cresceu ouvindo, Summer Eletro Hits, Kelly Key… tudo isso foi muito para esse disco, além de latinidades que estão acontecendo agora no pop, como C. Tangana, Rosalia, Sen Serra, Nathy Peluso… No Brasil eu poderia citar eu poderia citar Duda Beat, Johnny Hooker, Di Melo… todas essas pessoas foram muito importantes para a construção desse disco, para o swing que esse disco tem, mas sem deixar a experimentação de lado. Então eu acho que é um disco que traz uma sonoridade nova, mas sem deixar o que a gente já conhece de lado. É um movimento gostoso que esse disco tem.”

5. Como suas vivências no Recife inspiraram a produção do álbum?

R: “Eu acho que Recife é o determinante nesse disco. Todas as minhas vivências, observações e fantasias vividas aqui estão nesse disco. Ele traz o mar, a praia, o contraste de cores que está muito presentes na cidade, o bairrismo, as gírias que a gente fala e a forma que a gente fala sobre as nossas vidas, paixões, sentimentos e dores. Então acho que Recife é um determinante. Eu ia escrevendo o que acontecendo em tal lugar, em tal bar, no centro de Recife ou na praia, sabe? Então, se não fosse esses cenários que me fizessem sentir coisas assim, coisas extremamente pessoais, eu acho que o disco não teria saído do jeito que saiu, com esse gosto tropical e swingado.”

6. Como surgiram as parcerias de “Puro Transe” (6astos, Ceguinhas de Campina Grande)? De que forma elas enriquecem o projeto?

R: “O feat com 6astos surgiu porque a gente já tinha amizades em comum e eu vi ele se apresentando uma vez no festival e achei sensacional a presença dele. Depois fui pesquisar mais sobre ele e vi que precisávamos fazer alguma coisa juntos. Mandei a demo de ‘Me Enganar’ para ele e ele curtiu. Eu vim com a parte toda melódica e ele vem com uma coisa mais dura. O disco é feito de contrastes, assim. Eu acho isso muito legal. Já as Ceguinhas de Campina Grande estão em um sample muito emblemático para o disco e que evocava essa cultura popular nordestina. Berna trouxe esse sample do filme ‘A Pessoa é para o Que Nasce’. É uma gravação bem documental e acho que ela enriquece muito o disco porque as minhas maiores referências mesclam o contemporâneo com o que é tradicional; Quanto mais a gente mistura as nossas raízes com o que tá acontecendo no mundo, melhor. Eu acho que eu tenho um trabalho pautado nisso e esses feats vieram pra afirmar essa minha decisão.”

7. O que podemos esperar do futuro de Gomes? Quais são as metas, planos e projetos vindouros que podem ser compartilhados com o público?

R: “Eu acho que as pessoas ainda podem esperar muito de mim e desse projeto também. Eu queria que esse disco também celebrasse várias formas do meu fazer artístico, então eu pretendo lançar um filme de ‘Puro Transe’, além de um show especial de estreia, um EP também com novas versões das músicas, um álbum remix… eu pretendo fazer muita coisa com esse disco! Foi uma obra que me teve por três anos e eu quero aproveita-la. Eu quero que as pessoas entendam cada vez mais quem eu sou com esse projeto. Eu já estou começando a pensar em outros projetos, mas acredito que ainda tem muito o que explorar em ‘Puro Transe’ e que bom, né?”

Autor

Compartilhe