Hoje o aCena Recifense “solta o techno” e entrevista a DJ e produtora Cherolainne, idealizadora da festa NBOMB, evento icônico do circuito de música eletrônica underground de Pernambuco e que está completando seis anos de existência!
- Como a música surgiu na sua vida, principalmente a vertente da música eletrônica?
R: “A música eletrônica entrou na minha vida a partir da minha irmã. Ela me levou a raves, mas eu só cheguei a ir em umas quatro edições, até conhecer o techno. Por meados de 2015 eu estava conhecendo também a cena de Recife, me conhecendo também e começando a ver o que fazia sentido pra mim. Tudo o que eu via me encantou muito. Posso dizer que em uma das edições do 99 a minha vida mudou, lembro até hoje: eu estava sentada no chão, de frente ao Miami Pub, e quando eu olhei para tudo que estava acontecendo na minha frente, tudo aquilo refletiu muito em mim. Eu me identifiquei com aquilo, pois foi onde vi que eu poderia ser eu! Me senti tão abraçada e representada, pois não havia barreiras. Eu estava entrando em um movimento que abraçava muito as pessoas, mesmo eu estando lá como uma curiosa!”
- Como você começou a tocar? Você se lembra de como foi a primeira vez, a primeira oportunidade?
R: “A primeira oportunidade que tive de tocar foi em um after do No Ar Coquete Molotov de 2017. Eu não sabia tocar, mas pedi para que alguém me colocasse no line-up, porque aí alguém ia ver o meu desastre e iria decidir me dar aulas, e foi isso que aconteceu! Eu montei esse roteiro porque eu não era próxima de pessoas com os aparatos necessários, sabe? Tudo era muito inacessível ainda. Eram muitas barreiras, então fui muito estratégica nesse momento pra poder aprender porque eu tinha essa ânsia. Eu já via minhas amigas arrasando, tocando bastante, e fui instantaneamente influenciada por aquele movimento!”
- Como e por que você idealizou a NBOMB?
R: “A NBOMB surgiu de um movimento que eu já fazia parte, que foi a festa HYPNOS. Acabou que a HYPNOS passou um bom tempo sem produzir festas, o que coincidiu com um período em que eu estava com bastante visibilidade, então aproveitei aquele momento ali para poder dar continuidade ao movimento. Não que não tivesse tendo outros movimentos, mas eu sentia falta de uma festa como a HYPNOS. Eu queria dar continuidade àquilo e tinha a força necessária e as pessoas certas ao meu lado que poderiam fazer aquilo acontecer, e foi assim que a NBOMB nasceu e se mantém de pé até hoje. A NBOMB é composta por várias pessoas. Eu posso ser a cabeça, mas sozinha eu não levo pra frente o projeto. Tem muita gente que tá apoiando e sempre foi assim.
Eu considero que a primeira edição da NBOMB foi a que ocorreu como after do lançamento do filme “Fervvo”, de IDLibra. A gente meio que bateu o recorde de ingressos vendidos dentro das festas daquela cena, o que foi bem assustador e encantador ao mesmo tempo. Ver a galera aderindo ao movimento que estávamos dando continuidade, encantou muito a gente. É muito engraçado olhar hoje em dia, a nossa evolução. A gente fazia festa com ingressos a 5, 10 reais, não tínhamos muito recurso, a gente fazia tudo na raça. O filme de Libra serve para a gente entender o fundamento de tudo isso, sabe? Sobre quem foram as gatinhas que fizeram tudo isso acontecer.”
- Qual você acha que seja o diferencial e a importância que a NBOMB tem na cena do Recife?
R: “A NBOMB veio do movimento queer, nunca tendo mudado a sua identidade. Eu acho que a NBOMB mantém a sua essência, a sua originalidade, mesmo fazendo parte de um movimento que já passou e que passa por várias transformações. A gente continua se adaptando a esses novos momentos que chegam, mas a essência da gente permanece lá. Eu acho que todo mundo se sente muito acolhido e representado, de forma geral, porque a gente consegue absorver a cultura da cidade. A gente consegue imprimir isso de uma forma que reflita nas pessoas que fazem parte e que frequentam a NBOMB. Além disso, a NBOMB carrega uma bandeira, que é a bandeira da diversidade. Não só no line-up, mas todo o staff é sempre composto, majoritariamente, por pessoas LGBTQIAPN+. Sempre foi assim nessa caminhada de seis anos e sempre será!”
- Como é ver a NBOMB chegando a esses seis anos de atividade?
R: “Eu estava recentemente pensando nessa caminhada de seis anos e até chorei. A NBOMB se mantém porque o público a abraçou. O público confia e ter essa confiança é muito incrível porque coloca a gente num lugar de motivação. Eu faço a NBOMB, principalmente, para ver a alegria das pessoas. Eu criei a NBOMB para dar continuidade ao que eu vivia na HYPNOS, para poder proporcionar experiências como as que já vivi. É muito legal ver a galera feliz na pista, se divertindo e celebrando, já que a NBOMB também uma grande celebração. Ver a NBOMB chegar a seis anos de atividade é encantador e ter o público acreditando na gente mostra também que o que estamos propondo é bom o suficiente para fazer a galera sair de casa e ir pra festa ao longo desses seis anos.”
- Como se deu o processo de curadoria desta edição?
R: “BADSISTA é um nome muito querido em Recife e que sempre esteve com a gente. O Tuxe já tinha interesse em conhecer o Nordeste e veio ao Recife por fazer questão de estar com a gente, então o convidei. IDLIbra é nossa residente desde o início da festa, não tinha como deixar de convida-la! KAI está tendo um grande destaque na cidade e pensei nele com muito carinho porque eu vejo o esforço dele. Pensei em Metalluna por ser um desses novos nomes que estão surgindo na cidade e por acreditar que ela faz parte da nova geração. Já Gabnaja é a mais nova residente da NBOMB, da qual pude poder conhecer um pouco do trabalho antes mesmo de conhecê-la e me vi muito nela. Eu acho que ela é o amanhã. Por fim, como performer, temos Marxine, que é de Natal, mas é uma pessoa que sempre esteve presente!”
- O que é que a gente pode esperar do aniversário da NBOMB?
R: “Eu estou muito animada para essa edição. É uma edição que eu estou depositando muito do meu amor e da minha dedicação. Espero que seja uma noite muito linda e que todo mundo aproveite ao máximo. São seis anos de celebração, então acho que é motivo suficiente pra gente celebrar a noite e se divertir bastante. Não gosto muito de prometer, então eu acho que é mais sobre a galera ir e experienciar a NBOM. Para quem não conhece ainda, fica aí o convite pra conhecer e poder fazer parte dessa imersão com a gente. Espero que seja uma noite que vá mudar vidas!”