aCena Recifense entrevista Flaira Ferro

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O aCena Recifense bateu um papo especial com a cantora, compositora e dançarina Flaira Ferro, ícone da nova geração da música pernambucana que acabou de lançar seu terceiro disco solo, “Afeto Radical”. Confira!

  1. De que maneira se deu o seu encontro com a música e como surgiu a Flaira Ferro que conhecemos hoje em dia?

R: “Meu caminho com a música começou na dança. Aos 6 anos entrei na Escola Municipal de Frevo e fui aluna do Mestre Nascimento do Passo. Fiquei 10 anos imersa nos treinos e apresentações, viajei o mundo e conheci muitas culturas através do frevo. Então eu diria que a dança foi a minha primeira formação musical. Nas aulas de frevo eu aprendia sobre percepção musical, relação entre movimento e som, escuta rítmica, dinâmica, arranjos, instrumentação e improvisação. O cantar veio bem depois, quando fui morar em SP e trabalhar no Instituto Brincante com o multiartista Antônio Nóbrega. Lá aprimorei minha relação com a composição e o canto. Em 2015 lancei meu primeiro álbum solo autoral que abriu muitas portas para a carreira musical que foi dando bons frutos e aqui estou, com 4 discos lançados, sendo 3 autorais e um em parceria com Clara Coelho.

  1. Além de cantora, você também atua como dançarina. Dito isso, de que forma essa expressão artística influencia o seu trabalho como cantora?

Como falei acima, a dança foi a minha primeira formação musical. Quando canto não faço distinção entre corpo e voz. Tudo em mim vem do mesmo lugar de escuta. Cantar é dançar. Voz é musculatura em movimento, é dança pura. Meus shows desde sempre tem essa característica de unir dança, música, improvisação e performance.

  1. Como se deu o processo de concepção e produção do seu mais recente álbum, “Afeto Radical”? Quais foram as principais influências para sua produção?

Afeto Radical é um disco que nasceu junto com meu filho e com a chegada da maternidade. Criei boa parte das composições tomada por essa experiência radical que é parir e acompanhar o desenvolvimento de uma vida. Foi sob a força da ocitocina e do aleitamento que fui criando o conceito do disco e intuindo os caminhos de produção e gravação das faixas. Gravei as vozes amamentando e nunca vou esquecer o malabarismo intenso entre amor e exaustão.

Além de tocar percussão e bateria, quem assina a maior parte da produção musical do disco é Guilherme Kastrup. Afeto Radical foi gravado entre Recife e SP com banda tocando ao vivo. O time de músicos foi fundamental para chegarmos na identidade sonora final. Tivemos ensaios intensivos até chegar no resultado esperado.Henrique Albino assina direção musical, arranjos de sopro e tocando em várias faixas. Lucas Dan na sanfona, teclados e Synths e Miguel Mendes no baixo, teclas e synths.

As principais influências são Ave Sangria, Mutantes, Itamar Assumpção, Alceu nos anos 70, Cátia de França, Lenine e por aí vai.

  1. O que diferencia este álbum dos demais já lançados por você?

A chegada da maternidade ampliou a minha percepção de mundo, trazendo outras complexidades emocionais que fertilizam a subjetividade desse projeto. Acho que o disco alcançou uma maturidade sonora mais encorpada em relação aos outros que lancei antes. Desde o primeiro disco que pesquiso essa relação entre musica orgânica, eletrônica, cultura popular, espiritualidade, rock e experimentações. Sinto que Afeto Radical conseguiu traduzir de forma mais consistente esse hibridismo sonoro que busco.

  1. Quais são os elementos/partes favoritas do seu novo disco? Existe(m) alguma(s) música(s) que você considera que merece(m) destaque?

Eu amo a presença dos sopros e metais no disco. Flauta, saxofone, trompete e trombone engrandecem muito a sonoridade das faixas. E amo todas as músicas por que são singulares e apresentam necessidades diferentes de reflexão. Vai muito do dia e do mood. Mas sou bem apaixonada por Baleia, Amigo amigo e Afeto Radical.

  1. Nos conte um pouco sobre as participações especiais de “Afeto Radical”, como é o caso de Elba Ramalho e Lenine: De onde surgiu o interesse de tê-los no projeto? De que forma você acha que eles enriqueceram o disco?

A escolha das participações se deu pela via da admiração, da ressonância e da emoção. Lenine e Elba são grandes fontes de inspiração e influência no meu trabalho. O primeiro é meu conterrâneo, de outra geração, desbravador de uma linguagem autoral marcante que me emociona profundamente. Elba é fundamento na música brasileira, uma rainha que abriu caminho para muitas cantoras assumirem seus sotaques e identidades. Tive a oportunidade de conviver brevemente com os dois de maneira muito carinhosa e gentil. Eternizar nossas vozes nesse disco é um sonho realizado.

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